domingo, 29 de janeiro de 2017

A Imperatriz e o Clamor de Todos

Então, amigos!
A escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense, uma das mais tradicionais da cidade, lançou a polêmica com o samba-enredo"Xingu, o clamor que vem da Floresta", levantando a questão dos impactos ambientais desencadeados pela industrialização desenfreada.
Não é de hoje que sustentabilidade tem sido assunto temido porque existe um choque de interesses: sustentabilidade versus capitalismo..
Se levarmos completamente para o lado negativo certamente não conseguiríamos mais sobreviver pois é um caminho sem volta, no entanto, não vejo sentido fazer da letra do samba um campo de guerra e sim pensarmos então em soluções inteligentes e criativas que beneficiem todo o planeta.
Segundo declarações do carnavalesco Cahê Rodrigues, as críticas não são direcionadas ao agronegócio, engloba o desmatamento e a história de luta do povo indígena e procura "fazer um alerta sobre os riscos que ainda ameaçam " todas as etnias que existem no país.
Vamos à letra do samba:

"Brilhou... a coroa na luz do luar!
Nos troncos a eternidade... a reza e a magia do pajé!
Na aldeia com flautas e maracás
kuarup é festa, louvor em rituais.
Na floresta... harmonia, a vida a brotar
sinfonia de cores e cantos no ar
o paraíso fez aqui o seu lugar.
Jardim sagrado o caraíba descobriu
sangra o coração do meu Brasil.
O Belo Monstro rouba as terras dos seus filhos
devora as matas e seca os rios 
tanta riqueza que a cobiça destruiu.
Sou o filho esquecido do mundo
Minha cor é vermelha de dor
o meu canto é bravo e forte, mas é hino de paz e amor.
Sou guerreiro imortal derradeiro
deste chão o senhor verdadeiro.
Semente eu sou a primeira da pura alma brasileira.

Jamais se curvar, lutar e aprender.
Escuta menino, Raoni ensinou.
liberdade é o nosso destino, 
memória sagrada razão de viver.
Andar onde ninguém andou
chegar onde ninguém chegou.
Lembrar a coragem e o amor dos irmãos e outros heróis guardiões.
Aventuras de fé e paixão.
o sono de integrar uma nação
karaô...karaô... o índio luta pela sua terra
da Imperatriz vem o seu grito de guerra!

Salve o verde do xingu... A esperança
A semente do amanhã... herança
O clamor da natureza
a nossa voz vai ecoar...
preservar!"


Poesias à parte, embora o agronegócio seja responsável por 22% do PIB nacional e gerador de 37% de empregos no Brasil, daqui a algumas décadas pode não haver nação, então a discussão acerca da Terra, sustentabilidade, reaproveitamento, descarte , entre outros, devem sim ser discutidos de forma sistemática e progressiva e não apenas no período do carnaval.
As críticas direcionadas à Imperatriz Leopoldinense de maneira alguma prejudicará seu desfile, pelo contrário, em tempos de crise e instabilidade política, trouxe reflexão e movimentou a mídia, agregando pauta às redes sociais e trazendo evidência para a escola carioca... Já a sua pontuação foi colocada em xeque.
Tomara que os formadores de opinião não percam o interesse nas questões ambientais e que esse seja o gancho para muitos outros artigos.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Pura Alma Brasileira

Já se passaram 517 anos desde que os europeus pisaram em terras tupiniquins e as pessoas ainda se espantam ao verem um indígena. 
Normal até certo ponto pois não é comum trabalhar, estudar, conviver com este povo. Mas também não deveria ser objeto de espanto, haja vista que são nossos ancestrais ainda vivos e habitantes de nosso país.
O grande dilema se forma a partir do momento em que os índios vivem tão afastados, não por escolha própria, mas pela necessidade de sobrevivência cultural. 
Quando se conversa com um indígena logo percebe-se isso, a necessidade vital de preservação da cultura. Foi dessa forma que senti quando conversei pela primeira vez com Ysani Kalapalo. Vocês já devem ter ouvido falar dessa xinguana tão querida e visionária.
Ysani Aweti Kalapalo chegou em São Carlos no interior paulista aos 12 anos de idade, inicialmente para cuidar de sua saúde. Acabou ficando pois sempre quis estudar e aprender outras culturas. Foi com o apoio de um amigo de seu pai, Kunué Kalapalo, que o sonho de Ysani se concretizou.
A indígena conta que foi um começo bem difícil, tudo era muito novo e as dificuldades eram frequentes. Seu lugar de origem é uma aldeia Kalapalo no Alto Xingu em Mato Grosso, que tem em torno de mil habitantes.




Aos 26 anos, a xinguana, formada em mídias digitais, palestrante, CEO e fundadora do MIA - Movimento Indígenas em Ação, tem sido muito requisitada para eventos onde procura disseminar um pouco de sua cultura.






Foram várias conversas e assunto não faltou pois a paixão em falar de si e do seu povo é muito grande.
De riso fácil, Ysani respondeu a todas as perguntas com muita serenidade. Curtindo férias com a família falou sobre sua trajetória e sonhos para o futuro.

O que você trouxe de sua cultura para a sociedade dos brancos e o que leva daqui para a sua aldeia? Talvez seja a maneira como eu lido com as coisas, como equilibro minhas emoções, como lido com a vida. Na minha cultura aprendemos a lidar com coisas de adultos muito cedo, a sermos independentes cedo demais. Também trouxe uma maneira de olhar diferente, mais espiritual.
Levo muita coisa, principalmente a Educação, pois nós indígenas não temos a escrita. Hoje em dia tem porque pegamos do homem branco. Antes era tudo oralmente. Agora podemos escrever nossas línguas e nossas histórias.

O que tem de igual aqui e na sua tribo? Acho bem parecido o cuidado com os filhos, mas a diferença é que nas aldeias indígenas a criança é de todo mundo, todos cuidam do filho do vizinho, não existe separação. Também observo que muitos brancos gostam do contato com a natureza.

Por quais causas você luta? Têm muitas causas, principalmente a questão das terras, pois elas estão sempre sendo ameaçadas. E também a questão ambiental porque o ser humano precisa se voltar mais para a natureza pois precisamos mais dela do que ela de nós. Precisamos falar dessas causas na sociedade branca. Também luto pela questão do preconceito ao índio e a visão atrasada de que índio é isso e índio é aquilo...

Conhecendo tantas coisas novas, você conseguiria voltar a viver no Xingu? Quando eu estou nas cidades eu fico em comunidades quilombolas, sempre em contato com a natureza. Acho que aprendi a administrar, então consigo me equilibrar bem nos dois lugares, cidade e aldeia.






Com que frequência você viaja para a sua tribo? 
Normalmente duas vezes por ano. Fico mais ou menos uns dois meses cuidando da aldeia. Gostaria de estar mais vezes com meu povo mas tenho trabalhado bastante, sou uma profissional liberal. Quero aprimorar mais coisas e tenho que cuidar da minha organização. A minha renda vem do meu trabalho, não é muito, mas é o suficiente  para a minha sobrevivência.

Antes de se mudar, o que você sabia sobre São Paulo? Em 2.000 nós já tínhamos televisão, então eu já tinha visto algo da cidade e ficava impressionada, pensando que um dia eu iria conhecê-la.

Você se sente estrangeira em seu próprio país? Não, mas me confundem muito com coreanos, japoneses e outros orientais. A pessoas não sabem identificar uma fisionomia indígena, ainda mais que ando com roupas normais. Só quando me pinto e coloco meus adereços que eles reconhecem minha etnia. Eu não fico triste, acho graça até, pois percebo que o tratamento muda quando pensam que sou de outro país. (risos)




Sofre bullying? Sofri na adolescência, hoje se alguém me tratar mal ou falar mal do índio nas redes sociais eu ignoro. Recebo alguns comentários maldosos quando posto vídeos sobre política, mas é só. Normalmente recebo mais palavras de carinho.

Você é tímida? Olha, eu já fui muito tímida. (risos)
Principalmente na adolescência pois os outros alunos não tinham contato com o índio então me olhavam diferente. Eu sentia essa discriminação e isso fazia com que ficasse mais tímida ainda e com medo ao mesmo tempo. Depois passei a lidar com isso e a vencer a timidez.




Como é a Ysani mulher? Sou uma mistura de tudo um pouco, criança, adulta e velha. Eu diria que tenho todas as energias.

É muito vaidosa? Eu diria que fui muito vaidosa entre os 20 e 22 anos. Nessa época usava muita maquiagem, salto alto, roupas, essas coisas... mas hoje eu vejo que isso não me acrescenta nada, não uso mais, fico mais ao natural, como na aldeia.

Na sua percepção, quais as diferenças da mulher indígena para a mulher branca? Tem muita diferença... a mulher indígena faz quase os mesmos trabalhos que os homens da aldeia fazem. Não tem muitas limitações quanto ao trabalho masculino e feminino. Na cidade eu vejo essa diferença, trabalho de homem e trabalho de mulher.

Qual o papel da mulher na sociedade indígena? Estar ligada a casa, espiritualidade e política da aldeia. Porque a mulher é a base de tudo. Esse é o verdadeiro papel da mulher.

O que você acredita não conseguir viver mais sem?
Essa pergunta é boa.(risos) Olha, depois que eu tive esse contato com o mundo branco, não vivo mais sem tecnologia. O meu celular por exemplo, uso para tudo, ouvir música, trabalho, estar em contato com família e amigos. É minha companhia perfeita.










Há muitos mitos em relação aos indígenas... Sim e 
um dos maiores mitos é a visão de que índio não tem malícia. Ele é um ser humano como outro qualquer, têm pessoas boas e outras ruins. Outro grande mito é a de que todo índio tem cabelo liso, existe índio com cabelo cacheado também. Nem todos os indígenas têm a mesma cultura, língua, costumes. O que me incomoda bastante é dizer que os europeus foram os descobridores do Brasil... esse é o maior mito da história brasileira...ele foi invadido na verdade.

A tribo Kalapalo te considera uma heroína? Eu acho que não, teria que perguntar,mas não seria bem vista se perguntasse isso. 

Quem é sua inspiração? Tem muita gente em diferentes categorias. A Malala (Yousafzai, ativista paquistanesa) é uma guerreira. Profissionalmente me inspiro em Bel Pesce (palestrante, escritora, investidora e empreendedora) e no Enrico (Rocha, empreendedor digital). Também me inspiro em minha tia- avó Diacuí kalapalo que foi a primeira pessoa de nossa aldeia a se relacionar com um homem branco, quebrando muitos paradigmas.

Passando por tantas situações e conhecendo os dois lados de culturas distintas, qual a maior lição aprendida? Talvez seja respeitar as diferentes opiniões, as culturas diversas e saber lidar com a energia da cidade e da aldeia.

O que te deixa com raiva? Injustiça




Após tantas conquistas, ainda existe um maior sonho a ser conquistado? Tenho tantos sonhos... mas acho que seria o índio ter um espaço na política, onde pudesse falar.

A escola de samba carioca Imperatriz leopoldinense homenageia os indígenas nesse carnaval 2017 com o enredo "Xingu, O Clamor que vem da Floresta" ... Pois é... e eu estarei lá junto da escola. Achei linda a homenagem, me senti honrada e grata pelo convite.




Qual mensagem você quer deixar para os leitores do blog? Viva a sua vida sem atrapalhar a dos outros. Essa vida que estamos vivendo é agora, então não perca tempo com coisas fúteis, busque a espiritualidade pois é através dela que a gente se encontra com o nosso eu.





"Quando se está em paz consigo mesmo também se está em paz com os outros. Paz e amor."







terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Sou blogueira e agora?


Não foi de repente. O desejo de escrever já era antigo. 
Só não sabia ainda sobre o quê, pois quando se lê de tudo, de bula de remédio a classificados, o tema fica confuso e daí veio a demora.
O que escrever? Para quem? As pessoas vão ler? Vão gostar? 
São muitas as expectativas e talvez esse seja o nosso maior erro: depositar expectativas demais. Afinal, quando se ama e faz com verdade, a receptividade é consequência.
Todos os dias somos bombardeados com informações. Algumas notícias interessantes e outras nem tanto, ou nada.
Às vezes lemos coisas que nos comovem, animam, irritam... e todas por fim cumpriram a sua finalidade. Ficamos a par do que está acontecendo ao nosso redor. 
Na minha opinião essa é a função principal da notícia, informar e te levar a pensar e ao direito de concordar ou não.
Quanto mais lermos, nos informarmos, mais direito de escolha temos e com certeza isso traz crescimento. Espero que cresçamos juntos! 
O layout com certeza é temporário, assim como quase tudo nesse blog.
Então, tá! A gente vai se falando! 💋


domingo, 15 de janeiro de 2017

Tô de blog!

Então...
Nada como o bom e velho blog.
Eu tenho a mania de achar que tudo dá uma bela história. E se não der, tudo bem, terá valido a pena assim mesmo!